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segunda-feira, março 07, 2011

Interpretação, compreensão ou reescritura?

Interpretar é uma ação democrática e própria de cada um. Isso não significa que toda interpretação seja de fato uma interpretação do que foi escrito. Pode ser um entendimento que leve a uma reescritura do que foi escrito.
Para quem quiser tentar entender a essência daquilo que o escritor quis retransmitir, é necessário que leia com paciência e que leve em consideração fatores como contexto, a questão em si, significado das palavras, pontuação, etc. Assim como conhecer o contexto, é imprescindível que se considere exatamente o que está escrito, como está escrito e não só parte do que está escrito. Ou seja, é recomendável que não se faça "recortes" do texto para evitar entendimentos diversos. Palavras, vírgulas, aspas, pontos, etc., dão ritmo e significado ao que se quer dizer. Logo, precisam ser consideradas e respeitadas.
No caso do contexto, gosto de usar como exemplo a frase: "Quero que meus clientes se fodam!". Se nos postos do Hélvio, nas óticas do Miguel, na Madeireira do Sérgio, na Ferragem do Chico, nos Panos e Trapos do Feck, etc., esta frase fosse usada como propaganda, o resultado, provavelmente, não daria em boa coisa. Mas, sendo usada por um Motel, com certeza daria. Ao menos para a maioria dos seus "bem intencionados" e "esfomeados" clientes.

No nosso caso, o contexto envolve o grupo de Forasteiros, de Esteio, jogando Futsal nas 3ªs e 6ªas, das 20 às 21 horas, no Planet Sport Futsal. A questão discutida se refere a um gol que alegadamente saiu por sido fruto de uma saída de bola que estava rolando quando foi passada ao goleador do lance e que, por isso, deveria ser anulado. A acusação alega ilegitimidade no lance, tomando por base as regras do Futsal que considera faltosa ou inválida tal prática. O que, considerando as regras do Futsal, está correto. Só que...

As regras adotadas por nosso grupo, não são exatamente as regras do Futsal. É um retalho repleto de adaptações e tolerâncias, conhecidos, aceitos, pois praticados sem empecilho, mesmo sem consenso. Ou seja, jogamos com regras próprias.

Assim como a pena de morte em alguns estados americanos. Em alguns estados, ela existe como regra e é, pela sua prática e aceitação, mesmo que não haja consenso, uma prática moralmente respaldada. Se ela não fosse praticada dentro do contexto acima e a sociedade aceitasse tal situação, o não cumprimento desta lei, aí também pelo uso e costume, a tornaria também moralmente respaldada. Neste caso, vocês achariam correto que se alguém, que vive nesta sociedade e aceita as coisas como são, exigisse o seu cumprimento somente quando a vítima fosse ele?

No nosso caso, o reinício do jogo com a bola rolando é o não cumprimento de uma regra existente. E não adianta alegar que são apenas alguns que a deturparam, e que, de certa forma, a impuseram aos gritos. Se sistematicamente não há paralisação nem reclamação que mude tal atitude, é uma prática, bem ou mal aceita, que vige como regra na nossa brincadeira. Logo, com respaldo moral. Se não houver um basta formal, e não uma tentativa de mudança num momento do jogo que um dos times se sentiu prejudicado, a sua adoção pelos que ainda não se utilizam dela é só uma questão de tempo e adaptação.

E isto vale para todos os casos pontuais de corrupção, pedofilia, consumo de drogas, assaltos, etc., ou para os de bigamia, castigos físicos por crime cometidos etc., que são tratados de formas diversas por sociedades diferentes.

A palavra "sem importância" foi muito mal interpretada na tua análise. Não é que o gol não tenha importância. E não é o caso de tu ou alguém "nunca ter reclamado de um lance sem importância". Ao contrário. Só que a sua possibilidade deve ser considerada quando se aceita este tipo de "regra" e não só quando ela produz pontualmente um prejuízo. Entre aspas, "sem importância", está num contexto que quer levar o leitor a entender que elas são produzidas em partes da quadra que, em princípio, não seriam capaz de produzir maiores prejuízos ao adversário. Não é um pênalti, por exemplo. E não que elas, por ferirem alguma regra, não possuam a mesma importância que as outras. Pra mim não existe meio cumprimento de regra, como não existe meia foda. E se produzirem algum prejuízo, como foi o caso do gol? Aí elas deixam de ser legítimas? Não é possível existir uma regra, mesmo um retalho de regra, que a sua existência dependa do bem ou do mal que ela produzirá. Por aí que se entende a discussão que gerou tal lance. Não tem como se conviver com regras que, além de alteradas, valem quando me beneficiam e não valem quando me prejudicam. Convenhamos!

Tua análise do "uso e costume legitima moralmente atitudes", está fora do contexto e é, na verdade, uma reescritura do que foi escrito, pelo recorte que fizeste do texto. Leia de novo, entenda e, após ler o texto com as justificativas, adapte às situações que levantastes (corrupção, etc).

E por que não existe constrangimento nem abalo moral em cometê-la? Por que ela é, em quase todos os laterais e faltas "sem importância", não cumprida, sendo, desta forma, por seu uso e costume em nossos jogos, moralmente legitimada. É assim que se fundamenta um comportamento moral numa sociedade (no caso, na "sociedade" dos Forasteiros): com a aceitação, se não de todos, da maioria dos seus cidadãos. Por isso é difícil querer, mesmo que as regras da "outra" sociedade assim determina (a da sociedade que aceita e segue as regras do Futsal), que ela seja pontualmente cumprida no lance que tu reclamas.

Tu verá que não cabe comparar com a permissividade na corrupção, na velocidade do trânsito, no estacionamento em fila dupla, etc. Até por que não são praticados pela maioria, que sua prática sofre forte oposição, que os que se sentem atingidos e prejudicados e lutam contra elas, até por interesse próprio, são ainda a grande maioria.

Agora, se realmente a grande maioria praticasse tais abusos, com o silêncio e conivência da sociedade em geral, por mais absurdo que possa parecer, isso as tornaria moralmente aceitas, sim. E não adiantaria reclamar depois, como vítima de tais práticas. Não é o nosso silêncio e conivência que legitima o reajuste do salário mínimo dos trabalhadores e o reajuste dos nossos magistrados, deputados e etc., da fixação dos juros e assim por diante? Vamos questionar a sua validade moral se somos nós mesmos que os legitimamos?

Por isso que decapitar, enforcar, cortar os "documentos" dos homens e das mulheres, partes do corpo, como dedos, braços, orelhas, etc., são legítimos e moralmente aceitos pela sociedade que as praticam. Um horror, concordo, mas nada muito diferente das "legítimas e morais" invasões promovidas pelos norte-americanos e aliados aos povos inimigos da "moral e bons costumes".

E dizer que tudo pode começar nas pequenas coisas, como no nosso simplório comportamento no cumprimento de uma regra de Futsal. Praticados por aqueles que se consideram feitos a imagem e semelhança de Deus. Pode?

2 comentários:

Helvio disse...

Li tudo, não me convenceu, mas tudo bem, fica o dito pelo não dito, e vamos em frente, logo ali teremos mais uma situação, e mais e mais etc.. etc... tudo como dantes no quartel de abrantes.

Léo J Philippsen disse...

Tudo bem que possa parecer confuso. O que não pode, é achar que eu quero que as coisas, ou seja, que as regras não sejam mínimamente cumpridas. Só que temos que ajustá-las ao nosso modelo de competição e fazer valer. Como no caso da bola atrasada para o goleiro. O que não pode, é valer de um jeito e depois de outro, meu amigo, seguindo o princípio da vantagem. Esta que foi a questão combatida e não a existência de uma regra.

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